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03/07/2018

Gases de efeito estufa em sistemas de produção de ovinos.

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As mudanças climáticas são consideradas uma das maiores ameaças enfrentadas pela população e afetam direta e indiretamente a economia e as saúdes humana e animal.

O efeito estufa é um processo natural no qual os gases presentes na atmosfera absorvem a radiação, que é refletida na superfície terrestre, mantendo o aquecimento da Terra e a sobrevivência dos seres vivos. Porém, a concentração de gases como dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (NO2), têm crescido rapidamente em decorrência de atividades humanas.

No Brasil, as principais fontes de emissão dos gases de efeito estufa vêm das mudanças de uso do solo e de florestas, representando 42% das emissões totais; a agropecuária é responsável por 74,4% das emissões de CH4, sendo que 66,9% do gás é oriundo da fermentação ruminal (BRASIL, 2016). O CH4produzido e eructado pelos animais ruminantes, além de ser poluente, consome energia da dieta que não será metabolizada, acarretando menor eficiência no uso da mesma pelo animal.

Mesmo sendo responsáveis pelas maiores emissões de metano para a atmosfera, os animais ruminantes são um dos poucos emissores que podem ter a produção do gás manipulada, com intuito de diminui-la, através de alguns fatores relacionados principalmente à alimentação.

Ovinos mantidos em sistemas de pastejo apresentam a produção de metano entérico afetada, entre outros fatores, pela constituição morfológica e composição química das plantas forrageiras da pastagem.

Os pequenos ruminantes representam 57% da população de ruminantes do planeta (FAOSTAT, 2014) e contribuem com 6,5% das emissões de CH4 a nível mundial (OPIO et al., 2013). Em média, ovinos criados em pastagens de inverno emitem de 12 a 32 g de metano, diariamente (HAMMOND et al., 2013)

Devido a altas taxas de prolificidade e aos ciclos curtos de produção, ovinos e caprinos destinados à produção de carne têm sido considerados animais com menor potencial emissor, quando comparados ao rebanho bovino (MARINO et al., 2015).

Geralmente, alimentos que apresentam elevada digestibilidade levam a menor emissão de CH4, do que dietas de baixa digestibilidade, mais fibrosas e com baixos teores de proteína bruta. Em ordem decrescente, quanto à emissão, podem ser listados os seguintes alimentos para ruminantes: os capins tropicais (metabolismo C4, com mais fibras e lignina); capins de clima temperado (metabolismo C3, com menos fibras e menos lignina); e dietas com certo teor de grãos (ZOTI et al., 2009). Dessa forma, a oportunidade de consumo de pastagens de melhor qualidade pode otimizar o crescimento microbiano ruminal, o que afeta positivamente na eficiência da fermentação e na diminuição da produção de gás por unidade de carboidrato ingerido e fermentado. (Berchielli et al., 2012). Esse é um aspecto de destaque para a produção de ovinos no Brasil, e também no mundo, já que os principais rebanhos são criados tendo a pastagem como importante fonte de alimento.

Dietas ricas em amido, com o uso de alimentos concentrados, estimulam a diminuição do pH do rúmen e, consequentemente, tornam o ambiente ruminal mais hostil aos microorganismos produtores de metano, as Archae (Figura 1).

Figura 1. População microbiana ruminal, representada pelas bactérias, protozoários, fungos e archaebactérias (produtoras de metano). Adaptado de: Kozloski, 2011.

População microbiana ruminal, representada pelas bactérias, protozoários, fungos e Archaebactérias (produtoras de metano)

Aditivos ionóforos como a monensina, originalmente utilizados na avicultura como coccidiostáticos, alteram a fermentação dos alimentos no rúmen e o metabolismo energético e proteico. Logo, podem reduzir a produção de metano em 25% e são capazes de melhorar a conversão alimentar dos ruminantes (TEDESCHI et al., 2003). Contudo, a microbiologia ruminal pode desenvolver resistência após período de exposição ao uso dos ionóforos, restabelecendo a produção de metano, mesmo quando utiliza-se alternância de dois ionóforos como monensina e lasalocida (GUAN et al., 2006).

O fornecimento de lipídeos na alimentação, respeitando a adição de no máximo 4%, além de aumentar a energia fornecida ao animal, pode auxiliar na manipulação da fermentação ruminal de forma positiva. De acordo com a quantidade de lipídeo adicionada, ocorre redução na fermentação dos carboidratos, mitigando assim a produção de CH4 em até 20% (WEISS & PINOS-RODRIGUEZ, 2009). Concomitante a essa consequência, a adição de lipídeos de cadeia insaturada na alimentação relaciona-se diretamente com seu efeito letal sobre os microorganismos metanogênicos.

A presença de metabólitos secundários de plantas é vista como uma das alternativas relevantes devido à sua ocorrência natural. Grande número de plantas foram identificadas como potenciais mitigadoras de metano ruminal, devido à presença desses metabólitos, tais como os taninos presentes em plantas de pastagens.

O tanino age, basicamente, de duas formas para que haja a redução na emissão de metano. A forma direta de ação é a modificação na atividade ou na população de microorganismos metanogênicos (efeito deletério), o que reduz a produção de gás por alimento ingerido (ANIMUT et al., 2008), ou indiretamente com a diminuição na degradação do alimento (TAVENDALE et al., 2005). Dependendo da forma e da concentração de tanino utilizadas, este metabólito pode trazer consequências positivas ao otimizar o processo de fermentação ruminal.

Estudos recentes demonstram a eficácia do extrato de própolis e de plantas secas ricas em flavonóides, cuja adição na dieta de ruminantes resultou em mudanças na fermentação da fibra alimentar e menor produção de metano (OLIVEIRA et al., 2014).

Além disso, a suplementação dos animais em pastagens de baixo valor nutritivo, melhorando a digestão ruminal, ou a criação de animais em confinamento, supondo-se o uso de dietas de alto valor nutritivo, parecem mitigar de forma satisfatória a produção do gás, visto que há redução no tempo até o abate desses animais, com maior ganho de peso em menor tempo. Assim, há a redução da produção de metano por quilo (kg) de peso vivo, ocasionado pelo superior desempenho individual. Concomitante ao melhor manejo nutricional, o uso de animais de alto potencial genético é alternativa a ser considerada, seguindo o mesmo raciocínio.

No Laboratório de Produção e Pesquisa em Ovinos e Caprinos (LAPOC), da UFPR, tem sido monitorada a emissão de metano dos ovinos, em dois sistemas de produção em pastagens. Os sistemas de terminação de cordeiros para carne, sem o desmame, e o de cordeiros desmamados e suplementados após desmame com ração concentrada, foram avaliados por dois anos, em pastagens de inverno e verão, até o abate. Dados preliminares indicaram que cordeiros desmamados e suplementados com ração concentrada no pós desmame emitiram mais CH4; porém apresentaram melhores índices produtivos, além de maior ingestão total de alimento (FARO  et al., 2017; dados não publicados). Também têm sido monitoradas, nas mesmas áreas, as emissões de gases provenientes do solo, tais como óxido nitroso, gás carbônico e metano, assim como tem sido medido o estoque de carbono dessas áreas de produção de ovinos. A ideia é obter, futuramente, informação sobre o balanço de carbono dentro dos sistemas de produção dos ovinos em pastagens de verão e inverno.

Na escolha de estratégias que visem a adaptação dos sistemas de produção animal, visando baixa emissão de gases poluentes, é imprescindível que se leve em consideração os vários aspectos envolvidos na cadeia produtiva, especialmente aqueles que possam promover melhoria da eficiência, conforme foram citadas algumas alternativas. Frequentemente são discutidas essas possibilidades, considerando a busca do equilíbrio ambiental; soma-se a isso o grande desafio do resultado econômico favorável, de forma que as atividades se mantenham, atendendo seu objetivo principal, que é a produção de alimentos para o homem.

Autoras do artigo: 

Mylena Taborda Piquera Peres - Aluna de Pós-Graduação em Agronomia do Laboratório de Produção e Pesquisa em Ovinos e Caprinos - LAPOC da Universidade Federal do Paraná - UFPR

Alda Lúcia Gomes Monteiro - Professora da Universidade Federal do Paraná - UFPR e Coordenadora do LAPOC - UFPR

Karla Francisca Duarte Campos - Aluna de Pós-Graduação em Zootecnia do Laboratório de Produção e Pesquisa em Ovinos e Caprinos - LAPOC da Universidade Federal do Paraná - UFPR

Laura Derenevicz Faisca - Mestre em Agronomia pela Universidade Federal do Paraná - UFPR

Amanda Moser Coelho da Fonseca Faro - Doutora em Agronomia pela Universidade Federal do Paraná - UFPR

 




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